Há uma legião de líderes no setor da Saúde que se formaram na escola Edson Bueno, ou ao menos nela se inspiram. É possível reconhecê-los pelo trato atencioso, pela conduta e pela diligência
De todos os esportes, o tênis talvez seja o que mais simbolize o ganho individual, a superação física e mental sobre o adversário, a responsabilidade solitária e a capacidade de tomar decisões lógicas em intervalos de segundos. O tênis era o esporte do qual Edson Bueno mais gostava. E foi em quadra, em sua casa de Búzios, no Rio de Janeiro, que ele sofreu um infarto agudo, falecendo aos 73 anos.
Direto ao ponto, focado, obstinado. Essas qualidades explicam, em parte, como um menino nascido no pacato interior de São Paulo, que começou a trabalhar ainda criança para ajudar no sustento da casa, tornou-se um dos maiores empresários do Brasil e do mundo. Um homem de convicções imutáveis e marcos audaciosos, entre eles a realização de sua grande obra de vida, chamada grupo Amil. Um especialista em criar atalhos e saídas.
Existe a história de que, certa vez, teria levado um grupo de executivos da empresa para uma imersão nos mercados de Istambul, na Turquia, onde a cultura do comércio perdura por milênios. Queria que aprendessem, pela força da prática e da tradição oral, a arte de negociar, vencendo os talentosos comerciantes da cidade. Esperava, provavelmente, doar um pouco de sua sensibilidade para captar conhecimento das formas mais viscerais e inusitadas.
Há uma legião de líderes no setor da Saúde que se formaram na escola Edson, ou ao menos nela se inspiram. É possível reconhecê-los pelo trato atencioso, pela conduta e pela diligência. São um espelho de seu mentor, que interessava-se genuinamente pelas pessoas e que atribuiu a si mesmo o título de gerente de recursos humanos da Amil. Imagino, neste momento, quantas memórias devem tomar de pesar e gratidão os milhares de colaboradores por ele influenciados.
Na sabedoria popular, há o pensamento de que nós devemos ter, na vida, três interlocutores: um mais velho, que transmita experiência; um da mesma idade, para troca de ideias no dia a dia; e um mais novo, para nos alimentar de juventude. Mas, como homem de vida longa e produtiva, Edson não se comportava como o mais velho. Não proferia conselhos, não decretava o que as pessoas deveriam fazer. Referia-se informalmente ao outro como “mestre”. Ouvia outros pontos de vista, às vezes com certa impaciência. E, no meu caso, continuava a considerar importante o que eu fazia, ainda que não compartilhasse da mesma visão.
Edson Bueno construiu um legado ímpar. Como um dos mais importantes agentes do desenvolvimento da medicina suplementar em nosso País, ajudou a proporcionar a criação de hospitais de excelência no Brasil e a nos posicionar como terceiro maior mercado de Saúde privada no mundo. Mesmo depois de vender a Amil por 10 bilhões de reais, em 2012, para a gigante UnitedHealth Group, manteve-se ativo, como um empreendedor no apogeu de seu sucesso.
Ele morreu no auge da vida, no ímpeto da competição, dentro e fora de quadra. Morreu fazendo o que mais gostava.