Este conteúdo é de autoria de um hospital associado à Anahp

Famílias dizem não à doação de órgãos; transplante é chance de vida para pacientes

Ao celebrar 27 anos do primeiro transplante de rim em Alagoas e em sintonia com a campanha Setembro Verde – de estímulo à doação de órgãos – especialistas alagoanos que trouxeram a técnica para o Estado fazem um alerta à sociedade. Enquanto as doações reduzem a cada ano, a fila de espera por um transplante só faz aumentar. Uma das explicações é a negativa das famílias em autorizar a doação.

“As pessoas devem deixar bem claro, ainda em vida, o seu desejo em ser doador de órgão. Isso é importante porque cabe à família autorizar ou não o transplante”, disse a assistente social Ana Cláudia, representante da Comissão Interna de Transplantes da Santa Casa de Maceió. 

“Mesmo se a pessoa declarar-se doadora, a família pode não autorizar o transplante, daí a importância das famílias conversarem sobre o tema”, acrescentou Ana Cláudia.

Segundo a coordenadora da Central de Transplantes de Alagoas (CTA), Kely Brandão, das 50 mortes encefálicas notificadas ao órgão este ano apenas 20% teve o diagnóstico fechado. Conforme o protocolo clínico para transplante, o diagnóstico fechado de morte encefálica autoriza que se realize a entrevista junto à família do paciente visando à doação. “Desse total de 20%, mais da metade (57%) disse não”, lamenta Kely.

As 50 mortes notificadas ao CTA são uma gota no oceano diante dos cerca de 2% a 5% de mortes encefálicas registradas em hospitais com Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Os números mostram que centenas de doações poderiam salvar vidas em todo o país mas estão sendo desperdiçadas. Além da negativa das famílias, outros fatores ajudam a complicar a situação, como a subnotificação e questões técnicas relacionadas à captação, transporte e implantação de órgãos.  

Entre as principais alegações das famílias estão questões como a manutenção da integridade do corpo do falecido, que a pessoa era contrária à doação ou que a família desconhecia sua opinião sobre o assunto. Outro ponto é a não compreensão sobre os critérios para diagnóstico da morte encefálica, o que deixa na família a sensação de que o ente querido pode voltar a qualquer momento.

A Central de Transplantes de Alagoas informa ainda que 231 pacientes estão na fila de espera atualmente para receber um rim, número expressivo se comparado aos exíguos 10 procedimentos realizados este ano e às 107 intervenções registradas desde o primeiro transplante, em 1988.

Quando se fala em transplante de coração, a situação é pior: em 2015 foram apenas dois. A fila de espera tem três pacientes. O ponto fora da curva são as doações de córnea. Em 2015 foram transplantadas 56 córneas para uma fila de espera de 103.

Doações intervivos

O presidente da Associação dos Doentes Renais Crônicos, José Nilton da Silva, afirma que o Estado possui pouco mais de mil pacientes dependendo da hemodiálise para viver, dos quais uma parcela poderia se libertar do tratamento por meio do transplante intervivos.

Nessa modalidade, um doador compatível pode doar um rim, parte do fígado, tecidos ou mesmo a medula óssea, retirada da bacia.

“O ser humano pode viver com apenas um rim, o outro pode ser doado, sem comprometer a saúde e a qualidade de vida do doador”, disse José Nilton, sendo confirmado pelo nefrologista Arnon Farias e pelo urologista Mário Ronalsa. Cerca de 40% dos pacientes em hemodiálise têm condições clínicas para se submeter a um transplante”, comentou Arnon Farias.

Um bom exemplo é o cirurgião torácico Artur Gomes Neto, diretor médico da Santa Casa de Maceió. Ele recebeu o rim de um irmão após 20 anos de convívio lento e gradual com a hipertensão, que afetou o sistema urinário e quase o levou a fazer diálise. “A Santa Casa de Maceió está empenhada em manter a logística necessária ao transplante de órgãos”, disse Artur Gomes Neto.

Fonte: Santa Casa de Maceió – 23.09.2015

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