Saúde mental, engajamento e satisfação dos profissionais que oferecem os cuidados são pilares da saúde baseada em valor
Na última quinta-feira (16), o segundo encontro do Anahp Ao Vivo – Jornada Digital de novembro, que em parceria com a Viatris está abordando o tema “VBHC como pilar de transformação na saúde”, reuniu especialistas para discutir como as operações baseadas em valor podem ajudar a enfrentar a crise de saúde mental na força de trabalho, um dos principais desafios do setor atualmente. “Um problema que já está provocando consequências graves é a escassez ou falta de disponibilidade de profissionais adequados na hora e lugar certos”, alertou Luiza Mattos, sócia na Bain & Company.
De acordo com pesquisa apresentada por ela, 25% dos médicos estão pensando em mudar de profissão e, entre estes, 89% citam o burnout como uma das causas. Como comparação, em 2010, a síndrome era apontada por 40%. O estudo mostrou ainda que 65% dos profissionais se sentem exaustos após um dia trabalho e 37% já estão nessa condição ao acordar, antes de iniciar a jornada. E quase metade deles admite que não tem tempo e energia suficientes para a família e os amigos. Os enfermeiros, também avaliados na pesquisa, deram respostas semelhantes em todas as perguntas.
Marcia Bandini, professora do departamento de Saúde Coletiva da Unicamp, trouxe outro dado impactante em relação à taxa de suicídio, que é bem maior entre profissionais de saúde do que na população em geral, e alertou que “o burnout deve ser associado mais à organização, que foi incapaz de oferecer um ambiente de trabalho saudável, do que ao indivíduo”.
Para Cesar Abicalaffe, presidente do Instituto Brasileiro de Valor em Saúde (Ibravs), temos um sistema de saúde que estimula a produção excessiva e a complexidade da jornada, pressionando cada vez mais quem oferece a assistência em um modelo baseado no fee for service. “Não vamos conseguir ter resultados em valor com pessoas insatisfeitas no trabalho. Temos que garantir a qualidade de vida das nossas equipes”, afirmou.
O psiquiatra Luiz Dieckmann, diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Farmacologia Prática, destacou que um aspecto positivo de tudo isso é que a saúde mental no trabalho ficou em evidência. “Estamos conseguindo diminuir o estigma sobre o tema. Porque antes, se a pessoas estivesse com câncer ou hipertensão, ela não tinha problema em falar sobre isso. Já o distúrbio mental era jogado para debaixo do tapete”, explicou.
De acordo com os especialistas, a transformação para o VBHC passa necessariamente pelo enfrentamento dessa questão e vai exigir principalmente ajuste nos incentivos. Mattos ressaltou que é fundamental remunerar os profissionais de forma justa e competitiva. “Também devemos pensar em benefícios mais adequados às novas gerações e planos de carreira claros, com mobilidade ascendente para todos”, sugeriu.
Bandini reforçou a necessidade de aprimorar o ambiente de trabalho, com relações mais positivas e processos que estimulem a qualidade de vida. “O trabalho em saúde tornou-se mais denso, mais intenso e mais extenso. Temos, por exemplo, a imposição de metas não negociadas e até inalcançáveis, e conflitos interpessoais entre fatores psicossociais agravantes. A questão organizacional, principalmente a gestão de pessoas, pode promover doença ou promover saúde”, finalizou.
Anahp Ao Vivo – Jornadas Digitais
O debate Como o VBHC pode ajudar a enfrentar a crise de saúde mental da força de trabalho? teve a participação de Luiza Mattos, sócia na Bain & Company, Cesar Abicalaffe, presidente do Ibravs, Luiz Dieckmann, diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Farmacologia Prática, e Marcia Bandini, professora do departamento de Saúde Coletiva da Unicamp. A moderação foi feita por Ana Luiza Petry, head de Assuntos Corporativos e Acesso na Viatris.
Assista abaixo o debate “Como o VBHC pode ajudar a enfrentar a crise de saúde mental da força de trabalho?”