Café da Manhã: O desafio de diminuir o intervalo entre evidência e prática na saúde

Aprimoramento nas práticas e avanços na gestão têm que produzir resultados “na beira do leito” mais rápido, concordaram especialistas em evento conjunto da Anahp e Medportal

O tradicional Café da Manhã da Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp) este ano retoma o formato híbrido, com palestrantes e público no auditório da associação e transmissão ao vivo pela internet para centenas de participantes. Realizado na última terça-feira (15), o evento teve o Medportal como parceiro e trouxe o tema “Como gerar informação e conhecimento de impacto para o desenvolvimento de líderes e profissionais de saúde?”.

O CEO do Medportal, Thiago Constancio, iniciou o debate destacando que, atualmente, tão importante quanto educar é conectar o setor para que o conhecimento seja compartilhado. “Vivemos um momento de ‘infodemia’, gerando informação abundante, mas como podemos fazer isso impactar e produzir resultados e desfechos positivos para os nossos pacientes? Esse é o grande desafio”, colocou.

O médico Jorge Salluh, cofundador e diretor da Epimed Solutions, ilustrou a questão revelando que, na UTI, uma evidência de melhoria nos processos demora aproximadamente dez anos para se tornar uma prática comum no sistema de saúde. Fernando Torelly, superintendente corporativo do Hcor e organizador da Associação Voluntários da Saúde, acrescentou que o Brasil tem 6.500 hospitais com realidades muito diferentes e que o grande propósito da educação na saúde é produzir impacto “na beira do leito” de maneira uniforme em todo esse ambiente.

Para isso, concordaram os especialistas, é preciso começar evoluindo na formação individual. Evandro Tinoco, presidente do Chapter Rio de Janeiro do CBEXs e professor titular de Cardiologia da Santa Casa do RJ, reconheceu que “nós não preparamos os médicos para a transformação do sistema de saúde” como fez os Estados Unidos a partir da década de 90, quando atualizou a formação com a introdução de gestão e compliance, por exemplo. Para o professor, as instituições de ensino no Brasil têm que estimular novas competências no profissional de saúde.

Lídia Abdalla, CEO do Grupo Sabin, destacou a velocidade com que as coisas estão acontecendo no setor de saúde e que, por isso, os conhecimentos da graduação ficam rapidamente defasados. “Hoje, utilizo o que aprendi na faculdade em apenas 20% do meu trabalho. No restante do tempo são conhecimentos novos”, comentou. Por isso, completou Jorge Salluh, a educação deve ocorrer principalmente no local de trabalho e de forma permanente. “As instituições precisam criar uma cultura de evolução do conhecimento e de incorporação de boas práticas”, sugeriu.

Abdalla lembrou que “só conseguimos dar aos outros o que nós temos” para destacar a importância do investimento na capacitação constante. E apontou, inclusive, a necessidade de avançar nas habilidades comportamentais – ou soft skills – para complementar as competências técnicas. “Seremos melhores líderes se formos pessoas melhores”, acredita a executiva.

Torelly pontou que, embora seja fundamental as instituições investirem na educação das equipes, o profissional tem que assumir a responsabilidade de evoluir e “nunca perder a liderança da carreira”. Ele diz que o indivíduo tem que exigir alta performance dele mesmo, ainda que seu empregador não exija. “Cedo ou tarde todo o setor vai virar a chave para a alta performance e apenas quem já estiver preparado vai continuar no mercado”, finalizou.

Para os especialistas, o valor acontece com uma mistura de produção de conhecimento de qualidade, conexão para o compartilhamento ágil da informação, profissionais atualizados com a transformação da saúde e uma cultura da inovação, que diminua resistências para a adoção das boas práticas. Assim será possível diminuir o intervalo entre a evidência e a prática e impactar rapidamente a “beira do leito”.

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