A inserção de terapias nutricionais precoces e adequadas pode diminuir em até 300% os custos da assistência e reduzir o índice de mortalidade em UTI
A Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) realizou mais um tradicional Café da Manhã na última terça-feira (18), desta vez em parceria com a Danone, e abordou o tema Nutrieconomia e Nutrição na gestão hospitalar. Mariana Rocha, gerente médica na Danone, e Erica Camargo, head de Acesso ao Mercado da Danone, demonstraram como a escolha da terapia nutricional adequada impacta em desfechos clínicos e nos resultados financeiros do hospital.
Camargo apontou que as evidências mostram que pacientes com problemas de nutrição têm internações mais longas e demoram mais para se reestabelecer completamente. Por isso, acrescentou Rocha, as decisões na área não podem ser tomadas considerando somente o custo das terapias. “Porque na maioria dos casos o critério de escolha da dieta é apenas o preço”, afirmou.
Essa falta de planejamento financeiro – ou da nutrieconomia – é uma questão estrutural, destacou Camargo. “A nutrição não é considerada alimentação e nem medicamento, então fica em um limbo orçamentário”, explicou. Ela acrescentou que não existe um financiamento específico para o item e no SUS, por exemplo, somente 7% dos hospitais são reembolsados por terapias nutricionais.
Rocha aprofundou a relevância da nutrieconomia e detalhou que a assistência para um paciente desnutrido pode custar até 300% a mais do que para outro eutrófico. Ela apresentou dados indicando que, em média, uma internação ambulatorial pode sair por R$ 1.231,20 ou R$ 745,00 dependendo se há problemas com a nutrição ou não. “Nossas pesquisas mostram que uma instituição de médio porte pode economizar cerca de R$ 2 milhões por ano com mais planejamento nesse sentido”, informou.
Mais importante do que a economia, continuou Rocha, a terapia nutricional adequada influencia os desfechos clínicos. “Em geral, diminui o tempo de internação em 2,5 dias e, quando inserida precocemente, reduz a mortalidade na UTI de 20% para 11%”, ilustrou. Apesar disso, continuou, o sistema está longe de atingir níveis de maturidade satisfatórios nessa área.
De acordo com a especialista, a desnutrição tem grande prevalência na assistência brasileira e não está limitada às organizações com menos recursos. “Observamos o quadro em 30% a 40% dos hospitais da rede privada”, revelou. E destacou ainda que, inclusive, a desnutrição aumenta durante a internação, quando a dieta do paciente está sob a responsabilidade do hospital. “Os pacientes entram e saem desnutridos da UTI, mas como isso pode acontecer em um ambiente de monitoramento permanente?”, perguntou. “Estamos vendo o problema e não estamos atuando”, avaliou.
Rocha destacou que um dos motivos é a ausência de um protocolo de nutrição padronizado. “E também ocorre de existir um bom protocolo, mas a execução esbarra na falta de pessoal especializado”, completou.
Para Camargo, este é o momento de quebrar o paradigma da questão da terapia nutricional. “Temos que fazer os estudos de impacto econômico”, sugere, e ainda criar protocolos e treinar os profissionais. “Não pensar no assunto custa muito mais caro para as instituições e os pacientes”, finalizou.